Esse era o dr. Milton de Souza…
Por Fernanda Henriques
Quem conheceu meu avô, Dr. Milton de Souza, provavelmente traz na memória a figura respeitável deste senhor idoso, sério, católico fervoroso, médico dedicado que exerceu a medicina por mais de cinquenta anos. Ninguém imagina o jovem médico impetuoso, recém-formado, ávido para vencer na vida.
Pois bem: há muitas décadas atrás, na Bicas ingênua e simples de antigamente, o jovem Dr. Milton teve um entrevero seríssimo com um de seus pacientes.
Após o tratamento aplicado, conta apresentada, o nosso doutor descobriu que seu paciente não tinha a menor intenção de acertar o débito, mesmo sendo “homem de posses”.
O médico não pensou duas vezes: ficou vigiando e, na primeira oportunidade em que percebeu que seu ex-paciente agora curado havia deixado a casa para voltar ao trabalho, mandou parar uma carroça à porta do caloteiro e retirou da casa algumas peças de mobiliário, o equivalente à despesa médica. Nem mais, nem menos, afinal o doutor era honesto.
O ex-paciente furioso foi ao delegado de polícia e pediu uma solução ao caso, afinal o doutor invadira sua casa…
O caso não deu em nada, arquivou-se ali mesmo, o processo sumiu por com completo, como que por encanto, apesar dos acessos de raiva do reclamante.
Aí vocês me perguntam, biquenses amigos, como fiquei sabendo disso. Pois bem, logo após o falecimento de meu avô, seu irmão (meu tio) Edson de Souza veio um dia até nossa casa e trouxe os antigos papéis do processo e nos contou essa história. Mas por que exatamente ele tinha esses papéis, vocês devem estar se indagando?!?!?
ELE ERA O DELEGADO!!! E obviamente achou um desaforo, um paciente de seu irmão vir justamente até ele para “dar parte” de um membro de sua família, ainda mais injustamente … Bicas antiga: às vezes a lei era aplicada por vias tortas…