Desarranjo conjugal

Francisca estava terminando de passar uma pilha enorme de roupas, quando olhou para a sala e viu seu marido só de ceroulas lendo um livro. Chegou pertinho dele e disse: “Vê se arranja um servicinho para ajudar nas despesas da casa. Valdir, com um olhar contemplativo respondeu: “Mulher, muita grana é bobagem, dinheiro não traz felicidade. Estou preocupado com a Dulcinéia aqui do livro: pra mim, ela nunca amou Dom Quixote. O que você acha?”, perguntou ele para Francisca. Ela já cansada do lero do marido teve uma inspiração raivosa:  pegou o cabo do escovão, e num movimento certeiro, acertou-lhe o traseiro.

Valdir tomou um susto e saiu correndo ajeitando as calças, mas antes de chegar na rua, levou outra traulitada na cacunda perto do cangote. Os dois passaram correndo por nós que estávamos brincando em frente à casa da dona Ciloca e foram em direção à rua do Ginásio.

Perto da casa do sr. Martins, Francisca parou com o porrete na mão e vociferou: “Volte aqui seu vagabundo que eu vou te mostrar como a tal ‘Doroteia’ amava o Dom sei lá das quantas.”

Valdir, como uma flecha, chegou à casa dos seus pais, que ficava na esquina. Com os olhos arregalados foi dizendo: “Pai me ajuda que a Chica tá querendo me matar”. Sr. Cesário, já acostumado, sorriu e minimizou: “Vai lá, que sua mãe faz uma água com açúcar pra você”. Dona Leonilda, ocupada com seus afazeres domésticos, balançou a cabeça e sussurrou: “Esse menino não toma jeito mesmo”. Valdir foi aninhar no quarto de sua mãe… Bicas furiosa.