De volta para o futuro
Fazer uma previsão sobre o futuro não é tarefa das mais fáceis. Nostradamus já tentou tal proeza e acabou não se saindo muito bem. Pensar em soluções que facilitem a vida ou mesmo substituam certos processos adotados atualmente, talvez seja o foco abordado aqui. Yuval Noah Harari levantou questões muito pertinentes sobre o que o homem tem feito na tentativa de se tornar um verdadeiro criador, ao abordar temas polêmicos e já praticados pelo mundo, em sua obra: Homo Deus.
O desejo por mudanças e o aprimoramento dos mecanismos e meios que nos propiciam alcançá-las têm contribuído generosamente para uma avalanche de novas ideias no ramo da tecnologia. Tal advento inovativo culminará na extinção de inúmeras profissões num futuro próximo. O que obrigará milhões de pessoas a se redescobrirem novamente e buscarem soluções alternativas para a sua sobrevivência.
Gostaria de falar de inovação aliada ao transporte e mobilidade urbana. Neste ponto, se pararmos para observar o fluxo diário de veículos e pessoas num grande centro, veremos o quão incoerente e ineficiente ele ainda se mostra ser. De início vemos uma legislação de trânsito contraditória; em que é proibido andar sem cinto de segurança em carros de passeio, mas pessoas podem perfeitamente andar de pé amontoadas feito sardinhas em lata em coletivos urbanos. Veículos estes, por sinal, que já saem de fábrica com dispositivos próprios para que os usuários possam se agarrar enquanto o utilizam.
A incoerência persiste quando os próprios prestadores do serviço, como é o caso dos cobradores de ônibus interurbanos permanecem de pé no corredor emitindo bilhetes de passagem. Por que a lei funciona para uns e não para outros? Este é um problema grave de nosso país, o qual só se intensifica com os constantes entendimentos que são feitos pelos órgãos que na verdade não deveriam interpretar nada do que está escrito na lei, e sim fazer com que o texto seja cumprido de forma uniforme e isenta de distinções.
Prosseguindo com a análise, notamos uma total discrepância com relação ao tamanho de veículos coletivos urbanos em relação à sua finalidade. Interurbanos justificam sua altura elevada devido ao fato de que a parte inferior é composta por bagageiros. Entretanto, em ônibus urbanos isso não ocorre. Aliás, nunca vimos um cobrador abandonar o seu posto na roleta para guardar a mala de ninguém. Sua altura elevada e a presença de degraus para acesso de entrada e saída só contribuem para uma dificuldade de utilização por parte de idosos, deficientes físicos e pessoas com mobilidade reduzida.
Por que não adotar veículos mais baixos de modo a terem seu acesso facilitado, como é o caso das vans? A Iveco já pensou nisso e inclusive lançou recentemente um modelo de micro-ônibus adaptado. Talvez estejamos engatinhando em direção a um futuro mais eficiente. Falando em eficiência, como não reparar uma longa fila de carros num engarrafamento? Difícil não reparar também na distração dos motoristas em seus aparelhos celulares e demais elementos que no trânsito, só servem para desviar a atenção do foco principal. Com isso, é possível notar que em média, a cada vez que o sinal abre para os veículos, cada condutor tende a demorar 2 segundos para ter a reação de acelerar. Imaginando que o semáforo fique aberto a cada intervalo de 30 segundos, e que exista uma fila de 20 carros aguardando; se todos, em média, perderem este tempo para se locomover, e desprezando o tempo gasto no deslocamento; veremos que ao menos 5 destes carros ficarão presos no sinal vermelho novamente em virtude exclusivamente do tempo gasto na reação de acelerar e contribuirão para aumentar ainda mais a fila de engarrafamento provocada numa via. Pode parecer pouco, mas imaginem isso acontecendo o dia todo em várias ruas de uma metrópole? O resultado é caótico e interfere diretamente na qualidade de vida das pessoas.
Por isso que buscar soluções inteligentes para solucionar os problemas do nosso dia a dia é fundamental. Seja na implementação de políticas de mobilidade urbana mais eficientes ou na criação de veículos que melhor atendam o seu usuário. Atualmente, uma leva de carros elétricos tem surgido como uma expectativa do que poderemos encontrar num futuro próximo. Entretanto, ainda penso que a autonomia destes veículos poderia ser consideravelmente aumentada com a adoção de medidas não muito complicadas para engenheiros especialistas no assunto.
A energia produzida na utilização dos freios poderia ser redirecionada para as baterias, assim como é feito nos carros de fórmula 1. Sensores instalados na parte dianteira do carro poderiam transformar o atrito provocado pelo deslocamento de ar na carroceria do veículo em energia e servir de alimentação para diversos componentes internos; assim como a adoção de espécies de dínamos nas rodas – como era feito em antigas bicicletas com lanternas -, e de painéis fotovoltaicos no teto, intensificando consideravelmente a obtenção de energia por diversas fontes distintas, tornando o veículo consideravelmente mais eficiente e com uma autonomia muito mais elevada.
Todas estas análises foram fruto de vários momentos de observações. Se tivesse o dom de transformar todas as ideias em realidade, seria realmente ótimo. Como isso não é possível, as transformo em palavras para que possam de alguma maneira ser difundidas ou ao menos conhecidas. Como diria Doc Brown: embarquemos nessa viagem de “volta para o futuro”!
Crédito da imagem: DM Opinião