Suspeito seria um dos principais traficantes de JF; MP solicita investigação à Polícia Civil e aponta suspeita de falsidade ideológica
Por Sandra Zanella – 22/11/2023 às 07h37 – Tribuna de Minas
Um homem de 41 anos, procurado pela Justiça e apontado como um dos principais suspeitos ligados ao tráfico de drogas em Juiz de Fora, registrou um boletim de ocorrência no dia 8 de novembro na 4ª Delegacia de Polícia Civil, em Santa Terezinha, Zona Nordeste, mas não foi preso, mesmo havendo contra ele três mandados de prisão expedidos pelas 1ª e 2ª Varas Criminais. O caso despertou a atenção do Ministério Público, o qual indica possível crime de falsidade ideológica em documento público por parte do investigador que preencheu o Registro de Eventos de Defesa Social (Reds), já que o suposto traficante não teria sequer estado na delegacia.
Segundo o promotor de Controle Externo da Atividade Policial, Hélvio Simões Vidal, informações dão conta de que o suspeito estaria escondido na comunidade de Nova Holanda, no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro. “O nominado investigador de polícia nível especial deixou de efetuar a prisão do criminoso e, possivelmente, prevaricou e\ou praticou favorecimento pessoal em favor (do suspeito), sendo, possivelmente, autor de falsidade ideológica em documento público, acaso o nominado traficante, de fato, não tenha comparecido ao órgão, o que demanda competente investigação policial”, diz o ofício da 5ª Promotoria, encaminhado ao chefe do 4º Departamento de Polícia Civil, Eurico da Cunha Neto. O promotor ainda destaca se tratar de “conhecido traficante de drogas no Bairro Vila Ideal e contra quem estão pendentes de cumprimento três mandados de prisão expedidos pela Justiça Criminal de Juiz de Fora.”
Perda do recibo de compra e venda de moto
No Reds, o investigador descreve: “Sr. delegado! Compareceu na data de hoje neste órgão, o sr. (nome suspeito), para relatar: que perdeu o recibo de compra e venda da motocicleta (marca e placa) em local incerto e não sabido.” No campo do documento “unidade responsável pelo registro” está escrito: 4ª Delegacia de Polícia Civil/Juiz de Fora. Além disso, a parte sobre “como foi solicitado o atendimento da ocorrência” está preenchida com: “pessoalmente em uma unidade/posto”.
O Reds foi registrado como “Outras ações defesa social/perda do recibo de compra e venda”, com endereço na Vila Ideal, onde o solicitante teria residência e comandaria o tráfico, com provável envolvimento em homicídios. Há pouco mais de 10 anos, em 3 de outubro de 2013, o mesmo suspeito foi preso no município de Petrópolis (RJ) em ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que cumpriu um mandado de prisão expedido exatamente pelo Tribunal do Júri, que apura crimes contra a vida. Na ocasião, ele foi encaminhado ao Ceresp. A última passagem dele pelo sistema prisional mineiro foi entre 15 de fevereiro de 2016 e 16 de março de 2016, data em que recebeu alvará de soltura, expedido pela Justiça, e deixou o Ceresp, de acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
Suspeito não compareceu à delegacia, garante polícia
Em nota, o 4º Departamento de Polícia Civil informou já ter sido apurado que o suspeito em questão não compareceu presencialmente à delegacia, ao contrário do que consta no documento de Reds registrado pelo investigador. “Procedimento foi instaurado na corregedoria para apurar a conduta do policial”, destacou a instituição.