Calouros & veteranos
Na época dos vestibulares, o funil pra ingressar nas universidades ocorreu nas décadas de 1960, 1970 e 1980, mais ou menos.
Os cursinhos proliferavam e quem não tinha condições de frequentar um era praticamente eliminado antes das provas.
Lembro que grandes cursinhos pré-vestibulares eram capazes de “garimpar” escolas públicas atrás de gênios escolares (hoje nerds) e bancarem tudo pro caboclo de alto QI e tê-los entre os matriculados e catapultá-los para os primeiros lugares de Medicina, Engenharia ou Odonto, tempo que cursei o CAVE em JF, com um quadro de professores de altíssimo nível e conhecimento do assunto.
O curso de Direito não era tão procurado e hoje sabemos que é o mais bem remunerado…
A maratona em horas-aula e carga de conhecimento vinha condensada em apostilas repletas de dicas e bizus, formas de decoreba e até como colar sem ser notado…
Os pais faziam qualquer coisa para ver seu lindo rebento adentrar em uma universidade pública. Aquela candura de menino cabeludo, com rock na cabeça dia e noite e roupas desbotadas, iria pra outro patamar. Era como ganhar na loteria.
Passado o tão espremido vestibular… quem passou passou… quem ficou, mais um ano de cursinho ou tentar alguma faculdade que tinha vestibular no meio do ano. Eu caí numa dessas quando fui fazer um tour, digo um vestibular em Ouro Preto, considerada uma das mais exigentes universidades do estado. Tirei de letra, uma semana de embalos e eliminado categoricamente. Ainda bem que meu pai estava de bom humor e sacou que tudo não passava de armação adolescente…
Finalmente consegui no ano seguinte e virei calouro, ou seja: eu era um ser meio perdido curtindo cada segundo da adolescência dos anos 1970 e agora ingressava finalmente na tão sonhada faculdade pra fazer, sem teste vocacional, o curso de Engenharia Civil!
De cara você tem que se virar com a quantidade de documentos existentes no Brasil. Só não pediram o passaporte vacinal porque naquele momento a Rede Chorume de TV estava com os militares…
Nesse instante senti na pele o que era ser um calouro, ou seja: um bicho grilo na mão dos Veteranos!
O primeiro dia de aula era uma sacanagem sem fim. Éramos amontoados em um canto da faculdade e convidados a fazer as mais variadas barbáries e humilhações sob os olhares vorazes dos antigos, que também haviam passado por isso.
Cabelo pintado, picotado, roupas detonadas, descalço, arrumando dinheiro na rua pra pagar o chope dos veteranos… e tudo sob a conivência dos diretores. Nessa época as brincadeiras eram mais saudáveis e a integridade física não sofria tanto.
O Brasil não sabia o que era esse sentimento de ódio criado pelo PT e seus aparelhados. As universidades já estavam abarrotadas de bichos grilos com a camisa de Che Guevara, porém essa tchurma só conseguia vaga em História, Filosofia, Comunicação e outras modalidades em que professores e alunos tinham o mesmo perfil: Idolatria por Karl Marx e “irc” de produção!
A partir daí, até os trotes foram sendo patrulhados por essa gente. O politicamente correto foi-se infiltrando na sociedade até chegar aos dias de hoje, onde a mídia, assim como já previa George Orwell, em 1948, iria monitorar todos através da TV e câmeras de vídeo espalhadas por todo o planeta!
Passado meu período de calouro, passei a ser veterano no ano seguinte, mas ainda recebia ordens de veteranos do terceiro, quarto e quinto anos. Virei um tipo Recruta Zero, só que sem a pecha de calouro bocó do primeiro ano.
Hoje tudo mudou… os trotes foram sendo terceirizados, violentos e estão proibidos em várias universidades. Uma lástima, pois era uma tradição, era aceitável, sem ódio e sem divisão entre ideologias!