Bebê de ‘meio coração’ que precisou de vaquinha para nascer em SP celebra mesversário: ‘passa por coisas que muitos adultos não aguentariam’, diz mãe
Maria Antônia, filha de pais de Barbacena, nasceu no dia 16 de outubro. Menos de 10 dias depois, realizou a primeira cirurgia e agora aguarda agendamento de um novo procedimento.
Por Juliana Netto, g1 Zona da Mata — Barbacena
16/11/2023 05h04 Atualizado há 2 horas
Há um mês, a pequena Maria Antônia chegava ao mundo. Antes mesmo de nascer, a pequena, filha de pais de Barbacena, no Campo das Vertentes, recebeu o diagnóstico de Síndrome da Hipoplasia do Coração Esquerdo (SHCE), uma cardiopatia rara, conhecida também como “meio coração”.
Além da complexidade da síndrome, a família também enfrentou o drama de quase perder o dinheiro arrecadado em uma vaquinha para golpistas, que tentaram sacar o dinheiro das doações que iam custear o parto no Hospital Beneficência Portuguesa (HBP), em São Paulo.
Um mês depois, Fernanda, mãe de Maria Antônia, ainda se emociona com as dificuldades enfrentadas, mas orgulha-se da bebezinha, que dia após dia, luta pela vida.
“Ela está lutando bravamente, passando por muita coisa e está muito boazinha. Nasceu muito bem e não precisou ser entubada”, relata a mãe, que também conta como foi a primeira cirurgia da série que a criança precisa fazer — realizada com menos de 10 dias de vida.
“Ela fez uma cirurgia, chamada bandagem, no dia 25. Foi paliativa, pois ela não tem peso para fazer a cirurgia que ela precisa. Ela acabou emagrecendo nesses últimos dias por conta de uma infecção, que é bem comum em ambiente de UTI, o que atrasou a programação cirúrgica dela. Ela também começou a tomar as medicações para manter o canal do coração aberto e toma até hoje”.
Na tarde da quarta-feira (15), os médicos liberaram a bebê para a nova cirurgia, ainda sem data marcada.
Além da quantia da vaquinha e de outras doações, a família também conseguiu uma ordem judicial para que Maria Antônia pudesse nascer e seguir no HBP.
Sem previsão de alta e vinda para MG
Para realizar o tratamento no hospital de referência em cardiologia, a família permanecerá em São Paulo ainda por tempo indeterminado.
“Não temos uma previsão de tempo aqui, porque tudo depende da evolução dela. O pós-operatório mais difícil é da próxima cirurgia, chamada Norwood-Sano, que ela irá fazer. Seria a primeira, mas ela não tinha peso”, explica.
“Após ela se recuperar da Norwood, vem a terceira etapa, que ocorre por volta de 4 meses de vida. A questão é que a equipe não dá alta hospitalar entre uma e outra. Por isso, não podemos prever muito, é tudo no tempo dela”.
Segundo Fernanda, além da rotina no hospital, ela e o esposo Wilson – liberado do trabalho por quatro meses – revezam-se também nos cuidados com as outras duas filhas: Maria Teresa, de 3 anos, e Maria Rita, de apenas 1 aninho.
“Nossa rotina se baseia em cuidar das três Marias. Revezamos durante o dia no hospital — cada dia um vai — e à noite dormimos em casa. A Maria Antônia, como está na UTI, tem sempre uma técnica de enfermagem com ela. Então, ficamos muito tranquilos. E as mais velhas, como estão se readaptando a uma nova cidade e rotina, às vezes acordam de noite, então, decidimos assim ser melhor”, diz ela, que também conta com a rede de apoio de familiares.
“Duas tias minha vieram nos ajudar e ficaram quase duas semanas. Minha irmã vem no final do mês de novembro, meus pais vêm passar o Natal conosco e minha tia e prima vêm em janeiro”.
Mesmo com as incertezas, os momentos superados encorajam Fernanda.
“Estou feliz demais por estarmos nesse hospital. Se ela não estivesse aqui, ela não teria a chance de vida que está tendo. Ela é muito forte, guerreira mesmo. Passa por coisas que muitos adultos não aguentariam. Ela está nas mãos da melhor equipe do Brasil no caso dela, e estamos muito esperançosos nessa próxima etapa”.
“Se fosse preciso, passaria por tudo de novo: fazer a vaquinha, ataque de hacker, muitos exames, medo de como seria. Só para ela estar onde está.”