‘As artes marciais me salvaram’, conta juiz-forano que sobreviveu a desabamento

Campeão mineiro de kickboxing, Douglas Silva perdeu casa durante queda no Bairro Democrata, mas saiu sem ferimentos graves e projeta volta por cima em 2021

Por Gabriel Silva, estagiário sob a supervisão do editor Bruno Kaehler
10/01/2021 às 07h00

Dentro do ringue, o lutador Douglas “The Power” Silva já sofreu golpes duros. Mas poucos adversários – ou nenhum – o atingiram tão forte quanto um incidente ocorrido no último dia 22 de dezembro. No início da noite, a casa em que o atleta morava com o irmão e os pais, na Rua Monsenhor Ferrer, no Bairro Democrata, desabou. Os familiares do juiz-forano estavam fora da residência, mas Douglas retornou para tentar salvar o cachorro da família e despencou pelo barranco junto com o imóvel. “Acho que as artes marciais me salvaram”, conta o atleta, que se utilizou da autodefesa aprendida no kickboxing para sair apenas com ferimentos leves.

Praticante de artes marciais desde os 5 anos, Douglas ganhou destaque estadual em novembro de 2019, quando se tornou campeão mineiro de kickboxing. Pouco mais de um ano depois, as técnicas de luta seriam fundamentais para além dos ringues. “Quando senti que ia cair, eu encolhi o corpo para me proteger. Eu ‘fechei a guarda’, encolhendo os joelhos no peito”, relata o atleta sobre o desabamento. “Se eu tivesse caído de qualquer maneira, poderia bater escombros no meu corpo e me ferir mais gravemente”, relata.

O juiz-forano escapou apenas com alguns cortes superficiais e escoriações pelo corpo, apesar da queda de mais de dez metros. Um milagre, na visão do lutador. “Durante a queda, eu pensei que ficaria soterrado. Mas quando acabou o barulho, eu abri os braços e vi que não tinha nada, eu pensei que foi Deus (quem me salvou). Eu só queria sair dali depois de a poeira abaixar, não tinha nem voz para gritar”, conta, aliviado ao pensar na gravidade do incidente.

Campeão mineiro de kickboxing, Douglas creditou sua sobrevivência ao conhecimento nas artes marciais e aplicação técnica em meio ao desabamento (Foto: Arquivo pessoal)

Rede solidariedade

Após escapar com vida do ocorrido, a questão passou a ser lidar com as consequências do desabamento. Desamparada, a família perdeu a casa e pertences. Apesar de estar iniciando os trâmites jurídicos para solicitar apoio de um seguro, boa parte das despesas será custeada pelos próprios moradores, que haviam empregado 15 anos de investimentos na residência onde moravam.

Em meio à situação dramática, uma iniciativa de uma amiga de infância abriu novas perspectivas. Ela criou uma vaquinha para coletar uma quantia que ajudasse a família, inicialmente com meta de pouco mais de R$ 10 mil. A mobilização tomou proporções maiores, alcançando quase R$ 100 mil até o fechamento desta matéria, na última sexta-feira (8). Sem celular após o ocorrido, Douglas tomou conhecimento da rede solidária dias após a criação, sendo surpreendido pela quantidade de colaboradores. “Nós ficamos espantados com a repercussão que deu”, relata.

Os dias posteriores ao incidente também foram movimentados. Hospedados em uma casa de aluguel, a família recebeu a visita de diversos amigos sensibilizados com a situação. “Nos cinco primeiros dias após o acontecido, toda hora chegava gente. Trazendo mantimento, trazendo outras coisas. É um apoio que está ajudando a gente a superar o trauma com poucas sequelas. Se a gente não tivesse tido essa ajuda, o sofrimento seria maior”, avalia Douglas.

Desabamento no Democrata ocorreu no final de dezembro do ano passado (Foto: Fernando Priamo)

Retomada

O lutador, agora, planeja a reconstrução também da carreira dentro dos ringues. O ano de 2020 foi prejudicado pela escassez de eventos em meio à pandemia de coronavírus, mas o calendário deve voltar a ser mais movimentado ao longo deste ano. “Estamos planejando a minha primeira defesa de cinturão. Estamos tentando um evento grande para mim, que é o WGP (principal circuito profissional de kickboxing da América Latina)”, afirma, após manter a forma com treinamentos no último ano.

A visibilidade obtida após o desastre pode ajudar a conseguir mais apoio para a prática do esporte e utilizar todo o potencial. Sem desânimo, escapar de um incidente tão grave, na visão do atleta, serve de motivação para dar a volta por cima. “Depois de ter passado por uma catástrofe de uma magnitude tão grande, acredito que a bênção depois disso será muito grande”, projeta.

Fonte: Tribuna de Minas