Andando na linha
Aquelas duas linhas paralelas e infinitas, que cortavam a cidade de ponta a ponta, sempre foram motivo de curiosidade da molecada. Entre um trem e outro, nós utilizávamos os trilhos para nos divertir.
Primeiro, tinha aquela competição do equilíbrio, que consistia em disputar uma corrida em cima dos trilhos… Um moleque numa linha, disputando com outro na linha ao lado para ver quem chegava primeiro… O percurso variava mas, o mais usado era o da Praça dos Aposentados até a Estação. Não podia cair ou pisar fora e, o último a chegar, era “mulher do Padre”.
Outra brincadeira que valia até apostas, por ser bem mais difícil, era andar com o “arco” em cima do trilho. Essa era só para os bambas… Passávamos horas. E quando um comboio aparecia, era o momento de colocarmos os cacos de vidros em cima da linha para serem triturados e depois fazermos cerol (cola de sapateiro derretida misturada com o vidro moído). Passávamos o produto nas linhas dos carretéis, esperávamos secar, e depois íamos bater “laçadas” de papagaios… Minha turma tinha uma agenda sempre cheia… E como era bom a ferrovia no nosso dia a dia… Bicas molecando.