Aluno que acusa professora de amarrar o black power dele à força é apaixonado pelo cabelo: ‘Ele só corta as pontas’, diz mãe
Garoto contou à mãe que docente teria dito na sala de aula que o cabelo dele era feio e o prendido contra a sua vontade no recreio. Aluno de 8 anos estuda em escola de Juiz de Fora; Secretaria de Educação disse que investiga incidente e repudia qualquer prática de racismo.
Por Pedro Emerenciano*, g1 Zona da Mata e TV Integração — Juiz de Fora
22/11/2023 14h47 Atualizado há um dia
O aluno de 8 anos que acusa uma professora de amarrar o black power dele à força em uma escola de Juiz de Fora é apaixonado pelo cabelo, contou a mãe em entrevista à TV Integração, nesta quarta-feira (22). Rayelle Keller diz que o filho usa o cabelo assim desde muito novo e que não gosta de cortar os fios para ficarem cada vez maiores.
Rayelle contou que o penteado é parte essencial da personalidade do filho e que essa identidade arranca muitos elogios de amigos e familiares. Às vezes, para variar, ele trança o cabelo com a própria mãe, que trabalha como trancista. Ela está indignada pelo comportamento da professora e afirma que a atitude ocorreu ao longo do ano:
“Eu fui deixando, só que, agora, foi uma coisa mais grave. Fala se tiver cabelo no olho, que não vai assistir a aula dela, fala para prender o cabelo dele”.
O caso denunciado à direção do caso teria ocorrido na Escola Municipal Doutor Adhemar Rezende de Andrade, no Bairro São Pedro, em Juiz de Fora, e foi registrado pela Polícia Militar na última semana. A Polícia Civil já investiga o caso.
Rayelle Keller contou ao g1 que o garoto estava dentro da sala de aula quando foi abordado pela professora.
“Ele falou que a professora chamou o cabelo dele de feio na sala de aula. Na hora do recreio, falou com ele numa ignorância danada: ‘Senta aí agora!’. Pegou uma buchinha dela, nem é dele, ele não tem buchinha, e prendeu com força. Ele falou que até doeu”.
De acordo com Rayelle, o filho disse que no mesmo momento respondeu à professora que não queria e correu para o banheiro onde tirou o acessório para arrumar novamente o penteado.
“Ela falou com ele que não aguenta olhar pro cabelo dele. Ele odeia o cabelo preso. Nem eu, que sou mãe, forço ele a prender. Fica de cabelo solto até em casa o tempo todo”.
Após o fato, que ocorreu no dia 14 de novembro, a mãe do aluno contou que foi à escola dois dias depois e pediu uma reunião com os representantes da unidade de ensino. O encontro foi registrado pela direção do colégio em uma ata.
“Só tinha a vice-diretora pra conversar, ela anotou tudo que a gente tava falando. A professora estava na sala, mas ia sair mais cedo. Foi informado pra gente [Rayelle e o pai da criança] que ela não poderia conversar naquele momento”, contou a mãe.
A Secretaria de Educação de Juiz de Fora disse que apura o incidente e repudia veementemente qualquer prática de racismo e adota como política pedagógica um trabalho contínuo de conteúdo antirracista. Veja a nota na íntegra mais abaixo.
“E aí ele respondeu para ela assim: ‘Não, eu gosto assim. Eu prefiro assim, eu e minha mãe’. Aí ela falou: ‘Mas isso não é motivo não, pode prender esse negócio'”, diz a Rayelle.
No dia seguinte, sexta-feira (17), os pais do menino voltariam à escola para uma reunião agendada, mas foram informados por telefone que o encontro com a professora não seria mais possível porque ela teve um imprevisto.
O que diz a Prefeitura, responsável pela escola
Em nota enviada ao g1 na terça-feira (21), a Prefeitura de Juiz de Fora informou que:
“A Secretaria de Educação tomou conhecimento do caso, ocorrido em escola municipal, no qual teria se registrado uma conduta racista. Imediatamente, foi iniciada a apuração do incidente. A Secretaria de Educação repudia veementemente qualquer prática de racismo e adota como política pedagógica um trabalho contínuo de conteúdo antirracista, intensificado e fortalecido pela constituição em 2023 do NUPRER ( Núcleo Permanente de Relações Étnico Raciais). Concluída a apuração da situação denunciada, serão tomadas as providências cabíveis”.
A pasta foi questionada se a professora continua dando aula na mesma turma enquanto o caso é investigado, mas não houve resposta até a publicação deste texto.
*Estagiário sob supervisão de Fabiano Rodrigues.