Alexandre Ank supera osteomielite e já sonha com a Paralimpíada de Paris 2024
Após 41 dias internado por conta da infecção, mesatenista juiz-forano se recupera em casa e projeta o retorno aos treinos em novo ciclo olímpico
Por Iuri Fontana, estagiário sob supervisão do editor Bruno Kaehler
09/08/2020 às 06h59
Uma ferida no tornozelo de difícil cicatrização. Foi assim que o mesatenista juiz-forano e multicampeão Alexandre Ank desconfiou que havia algo de errado em seu corpo. Devido à pandemia e o medo de contrair o coronavírus, o atleta evitou procurar o hospital. Os dias se passaram e nenhuma mudança foi sentida. A preocupação levou Ank a buscar ajuda médica. Após uma ressonância, ouviu de um especialista o diagnóstico de osteomielite, uma infecção no osso causada por bactérias que penetram no organismo por meio de uma lesão – no seu caso a do tornozelo. A partir daí foram 41 dias de internação, sem acompanhante ou visitas, em função do cumprimento do protocolo sanitário de combate à pandemia nas unidades hospitalares, até receber alta no fim do último mês. O atleta contou à Tribuna as angústias dos dias isolado e a superação da doença, que se tornou um novo combustível para seguir em frente no sonho de disputar mais uma Paralimpíada.
“No início eu estava com muito receio de ir ao hospital por conta da Covid e quando agravou eu tive que encarar. Mas eu fui muito bem tratado e, até onde eu sei, não peguei e não tive risco nenhum. Se não fosse o coronavírus eu teria ido no médico muito antes. O receio de ir ao hospital acabou agravando a minha situação”, relata o mesatenista, que só sentiu medo maior quando a possibilidade de perder o pé foi cogitada para conter a infecção. “Em alguns casos têm que fazer amputação e em outros a medicação intravenosa resolve. Eu tomei antibiótico por 28 dias, fazendo tratamento venoso e, nesse meio tempo, foi resolvendo o que faríamos. Em uma conversa entre o ortopedista e o cirurgião plástico, eles tiveram a ideia de cortar o osso do maléolo da tíbia contaminado, para não correr o risco dessa osteomielite voltar. Se acontece a situação de eu ter que amputar o pé, me prejudicaria muito como atleta e na vida, no dia a dia. Isso mexe muito com o psicológico da gente”, conta o mesatenista.
Mesmo acostumado a encarar grandes pressões pessoal e esportivamente, Ank relata que enfrentar mais de um mês internado não foi uma experiência fácil, sobretudo pela ausência de uma companhia por conta das medidas de segurança praticadas. “Você está ali no quarto, isolado e sozinho. Tentei manter a cabeça no lugar. Tive contato com a família por meio dos aplicativos, mas não é fácil controlar a ansiedade. Foi uma situação bem difícil e pesada que eu tive que manter a cabeça forte. Minha mãe ia lá uma vez por semana, levar roupas limpas e uma comida diferente, o que me dava um conforto e alegria. E tenho que agradecer aos meus patrocinadores que me deram todo o apoio nessa fase, em destaque a Suprema. Eles me orientaram e apoiaram o tempo todo”, rememora.
Recuperação e planejamento
Após a cirurgia bem sucedida e os exames não apontarem mais a presença da bactéria no sangue, Ank retornou para casa na última semana e agora aguarda os 15 dias de observação recomendados pelo médico para retomar a rotina e os treinos. O pensamento é aguardar o período indicado, retirar os pontos, ver que está tudo bem e, aos pouquinhos, começar a fazer a parte física, fortalecer um pouco, porque a gente fica muito tempo deitado no hospital, sem movimentação. E, posteriormente, voltar aos treinos. A expectativa é de que no segundo semestre eu possa estar voltando a realizar algumas coisas, mas vai depender muito do quadro da pandemia, para estar retomando a carreira e os torneios. Esse ano eu disputei uma competição importante em Belo Horizonte (Copa das Federações de Tênis de Mesa) e fui campeão. Então é seguir firme atrás do sonho de estar disputando mais uma paralimpíada”, destaca.
O desejo de disputar os Jogos de Tóquio se tornou uma realidade distante, já que o mesatenista não obteve a pontuação necessária no ranking internacional para classificação no último ciclo. Mas a vontade de disputar mais uma paralimpíada, a de Paris, em 2024, se mantém viva para o atleta que lidera o ranking brasileiro em sua modalidade nesta temporada e que tem na superação uma aliada. “É recuperar e me planejar para as próximos competições. Tem o Sul-Americano, o Pan-Americano, o Mundial e depois a própria Paralimpíada. Meu desejo é manter a sequência de competições e permanecer entre os melhores do país e das américas.”
Fonte: Tribuna de Minas deste domingo, 09/08/2020