A tradutora de sonhos
O jogo do bicho foi durante um longo tempo uma forma de divertir e se associar. Ninguém ficou rico acertando no milhar, que era o maior prêmio. Depois o jogo perdeu o glamour e acabou na mão do crime organizado, e o povão aos poucos migrou para outros jogos.
Naquela época a febre passou para a loteria esportiva… No período da minha infância e juventude, na minha querida Rua do Brejo, tinha uma pessoa iluminada. Sua especialidade era interpretar sonhos e traduzi-los num palpite. Dona Doca tinha uma margem de acerto enorme. Sempre algum vizinho recorria a ela, contando seus sonhos, na intenção de fazer uma fezinha no bicho.
Doca dizia, com muita esperteza, que a química da tradução, só valia para os seus sonhos, mas não se negava a interpretar os sonhos alheios… Seu cambista preferido era o Mosquito. Ele a ajudava na tradução e a incentivava, pois aumentava as apostas.
Um dia, Maria Pé de Boi disse para Doca que havia sonhado com um beija-flor mamando numa cadela. As contas foram feitas e ela sapecou: borboleta e cachorro, mas pode ser vaca ou cabra.
As duas ficaram por ali fazendo as contas, com a ajuda de Mosquito, até que finalmente se acertaram. Fizeram vários passes e ternos, mas o que deu mesmo foi o terno: borboleta, cabra e cachorro. D. Doca e Maria receberam uma graninha legal e deram, naturalmente, a porcentagem do Mosquito, além de comprarem pirulitos para a molecada. Essa é a Rua do Brejo. Bicas contraventora!