A fortaleza da ternura
Maria da Glória Fávero Retto
Há pessoas que marcam um destino e definem uma época. No jeito de ser, no recato e pudor de singela vida.
Não é a rumorosa presença, sob as luzes do exibicionismo, da ostentação vazia, distante dos livros e das reflexões responsáveis.
Não é a atividade empresarial, o frio balcão de negócios, os lances duvidosos na ambição de grandes fortunas. Conheço alguns cofres humanos…
Tão pouco refiro-me às lutadoras que ganham as batalhas em profissões liberais e revolucionam o convívio social de um novo tempo.
Não. A personagem de que vos falo é a mulher do lar, a dona de casa que cria seu mundo próprio junto do marido, dos filhos e netos, no suceder das gerações.
Aquela criatura suave que abandonou o campo da feroz disputa, das ilusões passageiras, e se voltou unicamente para a definitiva estrutura, o alicerce familiar erguido no exemplo e na honra.
Bendito o país que pudesse ter em sua maioria lares assim construídos nos pilares da renúncia e no amor solidário. Outro seria nosso destino. A cidadania desperta ali, naquele calor humano, no respeito aos valores permanentes do espírito, na lição generosa aprendida desde cedo. De aconchego moral tão rico nasce o líder verdadeiro, sem ressentimento ou frustração, de amplo horizonte.
Em sua singularidade, MARIA DA GLÓRIA FÁVERO RETTO é bem o estilo inconfundível da mulher mineira do que ela tem de mais tradicional e autêntico, trazendo aos que ela convive a certeza de sua presença atenta.
A casa é sua fortaleza. Nela Glória Retto edificou um templo de paz. Ninguém desconsolado e triste deixará de colher a flor da compreensão, do sonho e carinho. Não há mágoa que resista o sereno otimismo de seu limpo coração.
Em horas de lazer, Glória Retto borda. Sua rara habilidade é proclamada aos quatro ventos. Mas a expressão maior do seu talento vem da tessitura humana, que soube organizar em torno de si, no abençoado trabalho de ternura.
Ainda há pouco, ela saiu da reclusão, preocupada com a saúde, para nos prestar solidariedade. Como sempre, a querida dama não se omitiu no momento da dor.
Antiga crença diz que ao lado de todo grande homem há uma grande mulher. Certa ou errada a asserção, no seu caso, porém, confirma-se plenamente a sabedoria popular: ela foi por mais de três décadas a esposa inexcedível de Francisco Retto Filho, notável figura de cidadão.
No seu canto, quieta, Glória Retto protege e ampara. No silêncio, ela diz tudo.
Que contribuição maior pode dar à sua gente tão belo comportamento? Em seu viver há grandeza, diferentes caminhos de participação. Presidiu o Lactário, colaborou com a Caixa Escolar, em diversas obras assistenciais.
Abdicou das vaidades, fugiu dos perversos. Fazendeira do Taruaçu, seu universo é um doce pomar de frutos maduros, onde brota as águas das fontes, que revigora a caminhante e o guerreiro encontra sombra e repouso.
(Crônica do saudoso Chicre Farhat, publicada no jornal O MUNICÍPIO,
em 30 de novembro de 1995)