A esfera

Confesso que Berlim nunca foi prioridade pros meus sonhos de consumo. Das várias cidades europeias que gostaria de conhecer, e até me mudar pra lá, pra qualquer uma delas, Berlim, capital da Alemanha, um dos países mais civilizados do planeta, nunca apareceu na minha lista de desejos.

Acontece que, ao fazer um roteiro que teria Praga, na Tchecoslováquia, como passeio preferencial, Amsterdam, Holanda e Bruges, Bélgica pra complementar a viagem, Berlim surgiu como opção intermediária.

De opção virou uma surpresa agradabilíssima, pois a cidade é linda, moderna, segura e cheia de atrações espetaculares. Pra começar, o sistema de transporte, que eu insisto em falar sempre, é fantástico: mistura trens, metrôs, leves sobre trilhos e barcos.

Chegamos de trem vindos de Praga e de cara descemos numa estação que mais parece um aeroporto, com vários níveis, elevadores, escadas rolantes e lojas pra todo lado.

A sensação de civilização misturada com a pulsação do poderio econômico e cultural da cidade me envolveu como uma bolha. Ficamos anestesiados com a gama de opções pra qualquer lado que se olha. O clima bem mais frio do hemisfério norte obriga as pessoas a se vestirem melhor e a organização urbanística das ruas, calçadas e arborização tornam tudo muito mais agradável, além da arquitetura mesclada de passado hiper preservado e o futuro mega espacial…

No início tudo parece meio complicado, porém basta começar a andar pelas ruas e avenidas pra pegar o jeitão da metrópole, principalmente, numa cidade onde existe um epicentro famosíssimo: o Portão de Brandemburgo!

Esse Portão dividiu durante muitos anos a linda cidade em duas, durante a guerra fria. De um lado a parte ocidental, com influência americana e capitalista, do outro a oriental, comandada pela extinta URSS (comunista). Um muro, na verdade, um muro duplo, com um espaço entre eles pra dificultar ainda mais o intercambio, cortando a cidade de leste a oeste. Ainda bem que foi demolido – resta um pedaço todo grafitado pra turista fazer self, inclusive o grafite mais marcante e mais conhecido do Muro de Berlin, pintado por Dmitri Vrubel, inspirado em uma fotografia que existe, registrando um acontecimento em Berlin Oriental em 1979.

Quando Brezhnev terminou seu discurso, o então Presidente da Alemanha Oriental, Honecker, abriu seus braços para uma saudação com um beijo, comportamento habitual entre colegas comunistas, mas desta vez Honecker e Brezhnev foram além e, com todo o entusiasmo, deram um beijo mais “cálido”, tipo Jean Uilis.

O Rio Spree corta a cidade de cabo a rabo sem ser interrompido por nada, numa sinuosidade quase que desenhada a mão. A cidade é plana a perder de vista e os barcos são uma atração imperdível.

Além do parque Tiergarten, imenso e ótimo pra caminhar, tem também praticamente do lado o parlamento alemão (Palácio do Reichstag), tudo muito próximo e fácil de visitar (logicamente, com algumas filas e agendamentos).

Cidade perfeita pra caminhar ou pedalar ou deslocar de transporte público. Fomos em direção à Praça Alexanderplatz, Alex para os nativos, onde fica a antena de TV, numa torre conhecida com esfera. No trajeto, a Catedral Lutherana de Berlim majestosa, arquitetura barroca, com o Rio Spree passando nos fundos. O local é conhecido como “Ilha dos Museus…”

Bem, a “Esfera” é um colosso! Apesar de alguns procedimentos de segurança para subir na belíssima torre, tudo compensa, a começar pelo visual de 360º e o restaurante (ótimo) giratório.

Com 368 metros de altura, está situada no centro da Praça Alex, a mais importante da extinta República Democrática Alemã (zona soviética).

Uma curiosidade sobre essa torre é que o vidro que cobre a parte principal da estrutura faz com que, quando o sol da manhã “bate” na torre, uma cruz é refletida no centro dessa esfera. Esse fenômeno, que todo mundo ao olhar vê a cruz, fez com que os ocidentais chamassem o símbolo do poder soviético de “A Vingança do Papa”, derrubando por terra a propaganda comunista.

Vale a viagem!