A dama do cabaré

Quando comecei a frequentar a zona, lá pelos idos dos anos 60, deparei-me com a figura lendária da Tia Rita. Ela não prestava mais os serviços de outrora, por causa da idade avançada, mas sua casa, ainda era um cabaré…

Com o andar alquebrado, raramente aparecia em público. Sentava numa mesa e ficava jogando baralho e prestando atenção no ambiente. Suas “meninas” faziam tudo como ela gostava. Apesar de poucos, porém ainda apareciam pais levando os filhos para a iniciação sexual (muitos dos quais queriam que suas filhas casassem virgens).

Tia Rita tratava todos do mesmo modo, mas adorava conversar com os jovens, e nós de ouvi-la “Meninos cuidado com as doenças e a violência por aqui.” E mais: “Se eu contar a quantidade de homens que se deitaram comigo, dá uma fila indiana daqui a Juiz de Fora, ida e volta”, falava ela com prazer…

A polícia não entrava em sua casa, por respeito e medo talvez, pois todos tinham seus pecados guardados por ela. Assim, quando havia batida por lá, nós que éramos “de menor” entrávamos no seu quarto, com sua permissão, e aguardávamos acalmar o ambiente…

Naquela época, quando as mulheres estavam queimando sutiãs em luta pelos seus direitos, nossa dama já era uma mulher livre. Notava-se, no seu rosto e nos seus cabelos brancos, traços de beleza e sofrimento, e também a certeza de sua independência.

Tenho para mim que Tia Rita foi mestra para várias gerações de biquenses… Tanto na prática, como na teoria. Sua vivência foi norte importante para um tema hermético, como o sexo, naquele tempo… Bicas sem hipocrisia.