A cachaça
Desculpa de cachaceiro é sempre igual ou parecida: o limão estava passado ou colocaram uma mandinga no meu copo e eu fiquei assim meio estragado …
Até pouco tempo a cachaça era considerada uma bebida de mau gosto, de escravos, bebida de pobre ou bebida de alcoólatras.
Pois bem, essas considerações continuam atuais só que com um pouco mais de sofisticação, um pouco mais de glamour.
Cachaceiro já não é sinônimo de gente bêbada, espaçosa e inconveniente. Cachaceiro é aquele cidadão que bebe socialmente várias pingas e consegue se controlar, porque bebe as boas, as melhores, as produzidas artesanalmente. Não entorna as cabeças ou os rabos, não se embebeda com as químicas, nem com as industrializadas, as de grande produção.
– Por falar nisso, sabe que esse papo me deu uma boa ideia?
O publicitário que teve essa brilhante ideia sacou que às vezes o sujeito que aprecia uma bebida destilada, fermentada ou encorpada, precisa de um motivo pra tomar um trago, precisa de uma desculpa pra jogar uma no pé, precisa de um argumento pra sorver o remédio…
Cachaças produzidas em Minas Gerais sempre foram famosas, pois aqui, no nosso estado, os engenhos de cana são mais que tradicionais, vêm lá do ciclo da cana de açúcar e por isso mesmo são mais apuradas, recebem tratamentos e processos que passam de pai pra filho. Várias gerações.
Sempre escutei falar de cachaça, pinga, da boa, aguardente, caninha, goró, da roça, mé, água que passarim num bebe, alpiste, cajibrina, marvada, remédio, levanta defunto, aperitivo, gólo, etc, porém, depois de muitos anos de estrada é que fui conhecer de perto essa bebida que hoje é sinônimo de bom gosto, de degustação.
Procê ter uma ideia, restaurantes cultuados pela gastronomia nacional, indicação da Quatro Rodas, Circuito do Charme, como o Gosto com Gosto, de Visconde de Mauá (RJ), promovem verdadeiros festivais de cachaça em que comparecem grandes apreciadores e degustadores da tão falada pinga.
Em Belo Horizonte um dos point’s prediletos dos nativos do Curral Del’ Rey é o Mercado Municipal ou Principal, como dizem os mais chegados. E é lá que começou essa febre pelas cachaças de Salinas, do norte de Minas, cachaças produzidas de modo artesanal, envelhecidas em tonéis de umburana ou bálsamo, concebidas a partir de canas colhidas em terrenos áridos, terrenos do Polígono das Secas. Talvez aí esteja o grande segredo pra que todas as pingas daquela região sejam tão famosas e realmente tão saborosas como a Anísio Santiago (antiga Havana), a Lua Cheia, a Salinas, a Boazinha, a Seleta, que ganhou o último festival em Mauá, a Beija Flor, a Meia Lua, etc.
Aqui na Zona da Mata também existem pingas de boa leva e as melhores que já provei são as de Itamarati de Minas. Lá as fazendas são centenárias, terra de engenhos de cana e fabricação de açúcar mascavo, melado e rapadura, sendo portanto, lugar de cachaças de primeira qualidade.
Um scoth também pega muito bem pra quem gosta, tipo cowboy ou com gelo, com água mineral ou amarula, porém vejo que a cachaça vem ganhado espaço tanto pelo preço quanto pela qualidade, e qualidade se mede pela falta de ressaca, né não?
Portanto, meu amigo, você que gosta de tomar seus drinquezinhos, aprecia um teor alcoólico ou simplesmente bebe, aproveite até o último gole, mas não precisa exterminar com o estoque existente.
Beba moderadamente…