Meus 109 anos

(Texto inspirado na crônica “Meus 103 anos”, publicado por ocasião do aniversário do jornal O MUNICÍPIO)

Cheguei aos 109 anos… Fui fundado em 29 de maio de 1910… E… fico a pensar.

Quando nasci, Bicas ainda pertencia a Guarará… Recebi o nome de Grupo Escolar Cel. J.J de Souza, porque um senhor chamado Coronel Joaquim José de Souza doou um terreno para que eu fosse construído. Ficava lá na rua Dona Ana, onde hoje funciona a Secretaria de Cultura.

Eu era um prédio muito bonito, que tinha a cor amarelo claro, e era gradeado de ferro.

Tinha muitos alunos, diretora, professores, funcionários…Era feliz.

Depois de 28 anos de funcionamento, lá na rua Dona Ana, caiu uma forte chuva e o meu telhado, de madeira, já velhinho, corroído pelos cupins, ficou encharcado… Pesado, caiu por inteiro em todas as salas de aula. Foi muito triste mas, ainda bem que não tinha aula no turno da noite: eu estava vazio, sozinho e, graças a Deus, não houve vítimas.

O meu desmoronamento foi uma tragédia, pois eu era a única escola pública da cidade.

Tinha uma outra, o Liceu, Escola Primária IV de novembro, mas nela só estudavam os filhos dos ferroviários da antiga estrada de ferro Leopoldina.

E me veio a pergunta: Onde meus alunos irão estudar?

Eram tantos…

Os meus alunos ficaram estudando em várias salas espalhadas pela cidade, em lugares muitas vezes sem carteiras e cadeiras para se acomodarem.

A minha diretora, Dona Maria Antonieta Gomes de Souza, enfrentou muitas dificuldades para coordenar todas essas salas espalhadas pela cidade mas, ela não desanimou… Foi corajosa, forte, firme, competente, dando suporte para todos os professores, funcionários e alunos.

O governo do estado ficou sabendo do acorrido e só tomou providencias para comprar um terreno para construir uma nova sede, graças à publicação de artigos escritos pelo jornalista Emil Faraht, que defendia o direito das crianças estudarem num local digno.

Na época, 1940, o prefeito de Bicas era Antônio Carlos Barroso. Barrozinho, como era conhecido, comprou um terreno da fazenda do Barão de Catas Altas. O povo se uniu e construiu meu novo prédio… Esse que vocês hoje veem, estudam e pessoas trabalham.

Em Bicas, não havia água canalizada e muito menos água na escola. Assim sendo, as merendeiras, para fazerem a comida e manter o recinto limpo, eram socorridas pelos vizinhos.

Os alunos traziam água filtrada de casa, em garrafinhas de vidro… Eu não recebia nenhuma verba do governo para me manter: a comunidade é que me mantinha.

O laticínio fornecia leite, os açougueiros doavam ossos com carne e os fazendeiros, gêneros alimentícios. A merenda era preparada em fogão de lenha.

Eu tinha muitos alunos e a cada dia chegavam mais e mais.

Como única escola aberta a toda a população, minhas salas de aula ficavam lotadas. Para abrigar a todos, fui obrigada a funcionar em 3 turnos.

Em 1974, fui para o estado e recebi a denominação de Escola Estadual Coronel J.J. de Souza. Em 1998, passei a pertencer ao município e mudaram meu nome novamente: Escola Municipal Cel J.J de Souza.

Por mim passaram muitas administrações e, cada uma, deixou sua marca na minha estrutura. E, aqui estou eu, de pé, repleto de alunos, recebendo sempre alunos novos e agradecendo por tantos que passaram e passam por mim e levam meu nome por esse mundo afora.

A vocês alunos, professores, funcionários, vice-diretora, supervisora, pais, amigos etc, agradeço por fazerem de mim uma escola respeitada na cidade. Vocês vão passar, mas eu continuarei aqui estampando um belo cartão postal de nossa querida Bicas.

Quando sentirem saudades, venham me visitar.

Muito obrigada por tudo!

Rita de Cássia Ferreira Jorge Fonseca
Diretora da E.M. Coronel Joaquim José de Souza

Como parte das comemorações dos 109 anos do Coronel, Neide Araújo da Silva Adun (professora mais antiga), Luciane Correia e Silva (supervisora) e Rita de Cássia Ferreira Jorge Fonseca (diretora), hastearam as bandeiras do município, do Brasil e da escola, respectivamente

Fonte: Prefeitura de Bicas