Quando criei asas

De agora em diante, O MUNICÍPIO vai recordar os pitorescos contos do livro “Bicas, um causo à parte”, do saudoso Vasco Teixeira, prestigiado ex-colunista do jornal. Um biquense que também fez história nas cidades de São José dos Campos (SP) e Paraisópolis (MG), onde estava radicado. O Tiãozinho da Rua do Brejo era multifacetado: metalúrgico, político, cronista, escritor, artista plástico e mais. 


Encorpando a Brincadeira (orelhas do livro)

Depois que eu entrei no grupo dos biquenses nas redes sociais e descobri amigos que não via há anos, comecei, em tom de conversa de esquina, a contar pequenas histórias alegres, que se passaram durante o tempo em que eu vivi em Bicas.

Cada caso que saia, os conterrâneos iam se divertindo. Eu, sempre aguçava a memória e aparecia mais um. Assim passaram mais de dois anos. Fui aprendendo o jeito da linguagem simples da minha cidade que acabou desaguando nos pedidos para que eu publicasse as histórias.

Mostrei os textos para amigos que conheciam o caminho da publicação, e todos me animaram. Finalmente, criei coragem, adaptei e selecionei os causos com a ajuda de várias pessoas e assim nasceu esta singela homenagem que faço à minha querida Bicas.

Todos os personagens são pessoas comuns, que conheci desde a infância até a juventude. Optei pelo lado alegre da vida e procurei traçar um perfil daquela Bicas em que vivi, num momento de grandes transformações sociais.

Biografia 

Nascido e criado na Rua do Brejo, na pequena e alegre Bicas, que fica na Zona da Mata Mineira, Sebastião Agripino Teixeira (Vasco Teixeira), metalúrgico aposentado, desfrutou até a juventude às novidades de um período que marcou a quebra de vários tabus.

Cursou o ensino fundamental no Grupo Escolar Coronel Joaquim José de Souza e Ginásio Estadual “Deputado Oliveira Souza”, e o Senai, sabendo que a qualquer momento teria que deixar Bicas para tentar outros voos. Partiu em 1974 para São José dos Campos/SP, onde construiu sua nova vida. Casado, pai de três filhos, Sebastião sempre visitava sua família em Bicas, cidade que nunca esqueceu.

“Bicas, um causo à parte”, segundo ele, é um livro para compensar um pouco a dívida de gratidão que tem com a cidade, imposta pela sua ausência.

Quando criei asas (primeiro causo do livro)

Desmembrei-me de Guarará e me tornei independente, com documento e tudo, em 1923. Sempre fui muito espevitada. Logo comecei a crescer. De uma simples parada de tropeiros, virei uma cidade bem charmosa. Com a chegada da estrada de ferro, então, fui virando a rainha do pedaço.

Poucos anos depois, já gerava empregos suficientes para todos os meus filhos. Para se ter uma ideia, com pouco mais de oito mil filhos, eu tinha quase dois mil empregos diretos (Leopoldina, fábrica de calçados, exploração de caulim, comércio, entre outros…)

Modéstia à parte, sempre fui acolhedora e bonita… meus filhos sabem disso. Perdi alguns que queriam voos mais altos, mas eles nunca se esqueceram de mim, vêm sempre me visitar, quando não voltam em definitivo. Gosto de todos, do mesmo jeito. Tenho tentado dar o melhor sempre, mas não é fácil. São muitos os problemas. Estou atenta aos que me governam, tenho um nome a zelar, por isso não descuido. Uma arrumadinha aqui, outra maquiagem ali e vamos criando essa molecada que já está próxima de quinze mil.

Meus braços estão sempre abertos e meu coração grande, sempre tem lugar para mais um…
Euzinha sempre feliz.

Vasco Teixeira