Uma volta no tempo XVI
Em casa, de bobeira e tal, vamos de… Entrevista a mim concedida pelo saudoso professor e advogado Lourenço Benedicto Dore e publicada originalmente no jornal A Região, n. 70, de 12/02/1996, na Coluna Gerais/Conversando
Nesta edição da Gerais, a aula fica por conta do professor Lourenço Benedicto Dore: 81 anos, católico, casado com Irene de Oliveira Benedicto, mestre do ensino, ex-ferroviário e advogado aposentado. Uma lição de sobriedade e educação. Um homem que, com seu modo singelo, galgou vários marcos na vida. Louros à beca. Um exemplo que pode ser mirado, pois o alvo é certo.
Estudou no Liceu Operário de Bicas e no Seminário Santo Antônio, em JF, onde permaneceu dos 11 aos 15 anos. A oportunidade de aprender com os padres apareceu porque ele era coroinha (acólito) assíduo nas missas da matriz e o pároco da época achou que o Lourenço tinha vocação sacerdotal, o que acabou não acontecendo, mas lhe valeu muito por causa do ensino rigoroso.
Após o aprendizado eclesiástico, ingressou nos quadros de empregados da Leopoldina (RFFSA), como auxiliar de escritório. Apreciador dos livros, “aprendeu muito” com o professor Francisco Peres, formando-se em Ciências e Letras, no Colégio São José, em JF.
Ao fundar – juntamente com outros nomes da educação – o Ginásio Francisco Peres – oficializado em 1942 – foi seu primeiro diretor, o que não o fez abandonar – lógico – seu emprego na Rede. Muito pelo contrário. Em 1944, botou o Senai pra funcionar, sendo, igualmente, seu primeiro diretor, além de lecionar português. (Tal qual as locomotivas de ferro, o rojão era pesado: das 07h às 23h, só trabalho).
Com uma boa bagagem laborativa e cultural, o pessoal da Leopoldina, do Rio de Janeiro, levou (em 1950) o nosso professor para ser o Inspetor das Escolas Primárias e Profissionais, passando pelos cargos de Assistente e Assessor de Administração Escolar, até chegar a Chefe do Departamento de Ensino, Seleção e Treinamento, aposentando-se como tal, em 1965.
Por que parou? Parou por quê? Que parou que nada! Aí ele foi ser advogado, formando-se em 1971, aos 56 anos. O dr. Lourenço era o homem do escritório designado para enfrentar – com cordialidade – o terno e o agitadíssimo fórum do Rio de Janeiro, sempre praticando o Direito Civil.
Quando era presidente do Leopoldina, trouxe o time principal do América-RJ- (naquela época, um timaço – 1939), promovendo um festão que repercutiu sobremaneira na região. Resultado: América 6 X 2 Leopoldina. Em outra oportunidade, conseguiu trazer o Flamengo-RJ, que todo relaxadão, levou um chocolate do Leopoldina: 7 a 1. É lembrar que, naquela época, o Galo ainda não tinha sede social e as atividades do clube eram somente esportivas.
Muito embora tenha se relacionado – profissionalmente falando – com muitas mulheres, principalmente no Rio, o nosso solteirão só veio encontrar a parceira ideal, aos 71 anos, em Bicas, sua terra natal, onde veio morar de vez, já aposentado, também, como advogado. “Quando vi a Irene, senti que era amor à primeira vista”, declarou. Neste fevereiro, eles estão completando 9 anos de união. Parabéns!
No mais, disse que…
Escreveu crônicas para os periódicos: O Lince, Lábaro, O Município e Jornal de Bicas. A maior parte delas homenageando pessoas “em vida” … Prefere comida caseira e vinho branco (pouco) … É rotaryano e pra lá foi levado pelo companheiro, Nélson Ramos … Lecionou Português também no Colégio Cardeal Arcoverde, no Rio de Janeiro-RJ- (1965/70) … Deu sua mocidade a Bicas, através da Educação … Era amigo do dr. Oliveira Souza, mas votava sempre contra ele. Questões partidárias … No Rio tirou o curso de Contador … No que tange ao futebol, é americano (no Rio) e Leopoldina (em Bicas). Honestaldo Silva (Leopoldina-1932), Didi (Botafogo) e Carola (América-RJ) foram seus craques prediletos … O filme que mais gostou foi E o vento levou… Que Ulisses Guimarães destacou-se na política nacional e, Gilson Lamha, na municipal … Gosta de dançar e que seu cantor/compositor/intérprete preferido é Chico Buarque de Holanda … Um dia, o dr. Oliveira lhe convidou pra candidatar-se a prefeito, mas não aceitou. Não é político … O ator/diretor de teatro, Procópio Ferreira foi o artista que gostou de ver atuar, principalmente na peça Deus lhe pague … Bibi Ferreira – filha de Procópio – é sua atriz preferida … Aprecia ópera, sublinhando a Palhaço, com o biquense José Roque (Teatro Municipal do Rio) … As crônicas que mais gostou de escrever foram: O sogro que não conheci e Minha primeira professora … O dr. Bianco marcou época no desenvolvimento da cidade … Lê os jornais Diário Regional e O Globo … Destaca Humberto de Campos como grande escritor, principalmente na obra Almas que sofrem … Em 1980, participou na Espanha do Curso de Direito Comparado e, aproveitando a chance, conheceu a Itália, a França, a Inglaterra e a Holanda …