“Por tudo isso, agradeço a Deus, à minha família e a todos que contribuíram para o meu crescimento profissional e espiritual”, diz VICENTE ROSSI.
Veja um trecho do documentário sobre Vicente Rossi, realizado por seu filho, o fotógrafo e cineasta Ricardo Rossi…
Para lembrar os 102 anos de O Município (29 de abril), este colunista e o diretor, José Maria Machado Veiga, visitaram o professor Vicente Rossi, e lhe entregaram uma placa para registrar que o professor é o assinante e leitor mais antigo do jornal. Em 29 de maio, fará 100 anos de vida.
No encontro, restou revelado, em primeira mão, a paixão do seu Vicente por fotografia, numa determinada fase da vida… Quando ele trabalhou em Além Paraíba, conheceu um alemão, de nome Eny, que lhe ensinou a arte de fotografar. Na posse de uma moderníssima máquina inglesa Ensign, fotografava e revelava as imagens em sua própria casa.
CZA: Onde nasceu Vicente Rossi?
Vicente Rossi: Nasci em Bicas, no dia 29 de maio de 1918. Fui casado com Graciema Martins Rossi com quem tive 5 filhos, 7 netos e 3 bisnetos. Sou o quinto filho de uma descendência de nove. Meus pais, Primo Rossi e Hilária Ferri, imigrantes italianos, chegaram ao Brasil na última década do século XIX. Eram naturais de Veneza e de Bolonha, respectivamente. De família humilde, fui educado com princípios e valores sólidos, que forjaram meu caráter e minha conduta. Ética, Moral e Religião foram os pilares sobre os quais construí minha história.
CZA: Fale sobre a infância…
Vicente Rossi: Aos 6 anos de idade, comecei meus estudos no Grupo Escolar Coronel Joaquim José de Souza. O prédio era localizado na rua Dona Ana, no espaço onde funcionava o antigo Fórum de Bicas. Com nove anos já trabalhava vendendo verduras e balas pelas ruas da cidade. Em 1929, aos 11anos, fui trabalhar na farmácia do Romeu de Oliveira. Eu atendia no balcão, no laboratório e ajudava o farmacêutico na manipulação de remédios, conforme a receita dos médicos.
CZA: Quando começou a trabalhar na ferrovia?
Vicente Rossi: No dia 7 de janeiro de 1933, fui admitido pela Estrada de Ferro Leopoldina Railway como aprendiz de carpintaria e de tornearia. Trabalhei 13 anos nesses setores. Quando cursava o Ginásio Francisco Peres, desenhei a lápis o retrato do poeta Catulo da Paixão, patrono do Grêmio Literário da nossa escola. A obra impressionou o chefe do Departamento de Ensino Seleção e Treinamento (DEST-RJ), que me convidou a ocupar o cargo de Professor de Desenho Técnico no SENAI de Cachoeira de Macacu- RJ, em 1946, e eu aceitei.
CZA: E a música na sua vida?
Vicente Rossi: Desde a década de 30, sempre estive envolvido com música. Inicialmente, fiz parte do Coral e Orquestra Santa Cecília, na Igreja Matriz de Bicas. Em Cachoeira de Macacu, além de ensinar Desenho no SENAI, fundei o Grêmio Teatral São Jorge e o Coro da Matriz Nossa Senhora da Conceição. Em 1954, fui transferido para Além Paraíba, promovido a Diretor do SENAI e da Escola Primária 28 de Outubro, ambas da Rede Federal de Ensino. Naquele município, fui regente do Coro da Igreja Nossa Senhora da Conceição, onde também fazia a voz de tenor.
CZA: Quando voltou pra Bicas?
Vicente Rossi: Em 1959, finalmente, retornei a Bicas. Aqui cheguei para dirigir o SENAI e a Escola Primária Quatro de Novembro (Liceu). No SENAI, criei o Coral Catulino Benedicto Dore, com 120 vozes masculinas, divulgando músicas sacras e do folclore brasileiro. Com esse coral, cantamos na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte. Organizei uma fanfarra que, durante anos, abrilhantou a festividade cívica de 7 de setembro. Na matriz de São José, dirigi o Coro Santa Cecília, que até o início de 60, entoou em latim todas as músicas das cerimônias da Semana Santa, das missas dominicais e o TEDEUM, quando a cerimônia exigia. Com as mudanças do Concílio Vaticano II, o coro continuou cantando em todas as missas, Semana Santa, bênção do Santíssimo, casamentos; porém, em português.
CZA: E o seu lado professor?
Vicente Rossi: Em Bicas, no Ginásio Francisco Peres, lecionei Ciências Físicas e Biológicas… Práticas Comerciais no Curso Comercial e Canto Orfeônico na Escola Normal Anna de Souza. Formei mais um coral com as normalistas, o Coral Anna de Souza. Com ele, cantamos no Palácio da Liberdade em Belo Horizonte, para o governador Israel Pinheiro e, em Cachoeira do Itapemirim, a convite de um grande empresário. Meu objetivo era divulgar o folclore brasileiro e cancioneiros da Itália e da Espanha, nas festividades e na Semana das Normalistas. Aposentei-me da direção do SENAI, em 1965, mas continuei lecionando, até 1983.
CZA: E a sua relação com a Igreja Católica?
Vicente Rossi: Na Igreja Católica de Bicas, minha devoção à Maria foi o motivo para a criação do Momento Mariano de Oração. O terço era recitado, diariamente, de casa em casa, inclusive nos sítios e fazendas da zona rural de Bicas. No final da década de 60, teve início a recitação do terço, em frente à gruta de Nossa Senhora de Lourdes, às 5h30 min, nas segundas-feiras, onde orávamos pelos falecidos, pelos agonizantes, pelos doentes e pela paz.
CZA: Faça um balanço da sua trajetória?
Vicente Rossi: Hoje, aos 100 anos, contabilizo o que plantei na gratidão dos ex-alunos, nas homenagens especiais do legislativo biquense, com o diploma de Cidadão Benemérito, em 7 de setembro de 1994; da Escola Técnica (SENAI), de Além Paraíba, que agraciou-me com a Comenda Valdomiro A. de Oliveira, em outubro de 2011, em reconhecimento por trabalhos prestados; da Prefeitura de Pequeri, por minha descendência italiana, na bela festa dos imigrantes, em setembro de 2012; das escolas de Bicas, E.M. Gilson Lamha, E.M. Dr. Mateus Monteiro da Silva, E.M. Cel Joaquim José de Souza, por onde passei como professor colaborador, ensaiando os alunos para festas cívicas e religiosas; do Colégio Elite e da Escola Aquarela, que me escolheu para ser homenageado no projeto da Prefeitura de Bicas, “Resgatando a História de Homens Honrados”, em 7 de setembro de 2013. Por tudo isso, agradeço a Deus, à minha família e a todos que contribuíram para o meu crescimento profissional e espiritual.
Fotos: Ricardo Rossi