O voo do coronel Arruda

Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário
(Tonico da Dona Minervina)

Imagem ilustrativa

O coronel Arruda foi um importante fazendeiro no município de Bicas, nos anos 50 e 60. Sua fazenda ficava situada perto do povoado de São Manoel. O coronel era um homem de visão e muito estimado pelos biquenses. Ele tinha o costume de, duas ou três vezes por semana, vir de sua fazenda até o centro de Bicas para fazer compras. Para tal, usava um triciclo, tipo lambreta, com um baú na parte da frente. Geralmente, esse tipo de veículo era usado pelas padarias para entrega de pães… Naquela época, era o único em Bicas. Quando ele passava despertava a curiosidade de nós, meninos da parte alta da cidade.

Às vezes, ele parava e conversava com a gente e, de vez em quando, permitia, um ou dois, embarcarem no baú. Isso quando levava poucas compras. Ele nos levava até a fazenda e, ao chegar lá, pedia para descermos e permitia que apanhássemos frutas no quintal da propriedade, como: goiabas, laranjas, araçás, mangas e marmelos.

Um acontecimento importante na vida do coronel foi quando ele comunicou aos vizinhos, amigos e aos biquenses que iria voar. Dessa forma, convidou a todos para comparecerem em sua fazenda, num determinado dia, para assistirem ao seu voo, informando que o primeiro seria em volta de sua fazenda, o segundo sobre a cidade de Bicas e o terceiro seria um voo panorâmico sobre de Juiz de Fora. No dia marcado, o terreiro de sua fazenda, onde secava cafés, ficou cheio de gente, curiosas para assistirem ao voo, entre elas a sua esposa, Dona Manú, sua filha Bebete o seu genro Mário da Cooperativa.

Na hora marcada, ele se dirigiu para a grande varanda do segundo andar da fazenda e pediu a um de seus empregados para amarrar em seus braços duas grandes folhas de bananeira, que ele colheu no bananal para ele iniciar o voo. O empregado disse: “Não faça isso, não vai dar certo… o senhor pode se machucar”. O coronel disse: “Amarra logo essas folhas que você vai ver eu voar… em seguida, tomou distância e, batendo os braços, saltou da varanda, espatifou-se no chão, com asas e tudo… Todos correram para socorrê-lo. Felizmente, teve apenas pequenas contusões. Ele se levantou e disse: “Da próxima, vai dar certo”. Foi com muito custo que os familiares e amigos conseguiram convencê-lo a desistir da ideia.

É possível que coronel tenha se inspirado na história de Ícaro, que foi uma personagem da mitologia Grega, cuja história envolve um par de asas de cera de abelhas, fiapos de colchas e penas de aves e a tentativa frustrada de fuga da ilha de Creta, junto com o seu pai, Dédalo, onde estavam cumprindo prisão. Angustiado para deixar o local, Dédalo então constrói assas para si e para Ícaro, a fim de abandonarem a ilha.

Antes de alçarem voo, o pai explicou que eles não poderiam voar muito baixo para que o mar não molhasse as penas, nem muito alto e perto do sol, para que o calor não derretesse a cera. Mas quando estavam voando, Ícaro ficou deslumbrado com a sensação de liberdade e com a vista maravilhosa,  distanciou-se do pai e passou a voar cada vez mais alto,  aproximou-se muito do sol, o que fez com que suas asas começassem a derreter. Foi então que aconteceu a queda de Ícaro. O garoto caiu e morreu no mar Egeu, num local batizado como mar Ícaro. Dédalo ficou muito triste e se sentiu culpado, por ser responsável pela fabricação da asas que mataram seu próprio filho. Em algumas versões da história, Dédalo e Ícaro escaparam, de barco, da ilha.