Músico Salim Lamha morre aos 62 anos
Artista sofreu um infarto fulminante na noite de segunda-feira em sua casa, na cidade de Bicas
Por Tribuna
19/10/2021 às 10h14- Atualizada 19/10/2021 às 15h12
Um dos mais conhecidos músicos de Juiz de Fora, o guitarrista e violonista Salim Lamha foi enterrado na manhã desta terça-feira (19) no Cemitério Municipal de Bicas. O artista morreu na noite de segunda (18), aos 62 anos. Segundo o filho do artista, Gibran Lamha, ele estava em casa quando sofreu um infarto fulminante, por volta das 21h. Ele havia retornado para Bicas, sua terra natal, há pouco mais de um ano.
Para a Tribuna, Gibran Lamha destacou que seu pai participou da gravação de trabalhos de diversos artistas locais, como Dudu Lima e Cacáudio, mas não chegou a lançar álbum próprio, apesar de ter deixado a gravação de um disco com cinco músicas. Ele acrescentou, ainda, que o músico deu uma pausa na carreira musical ao se mudar para Bicas. Por mais de quatro décadas, Salim Lamha se destacou como um dos grandes nomes da música instrumental da cidade, mas também enveredou pelos mais diversos gêneros, como rock, jazz e samba, tendo participado de inúmeros grupos e projetos. Na última década, tocou com o Instrumental Nota Jazz e o Trio Anima.
Ausência lamentada, amizade celebrada
A notícia da morte de Salim Lamha foi lamentada pelos muitos amigos e parceiros musicais que fez durante a carreira, que destacaram o talento do músico, as amizades construídas ao longo dos anos, sua contribuição para a cultura e até mesmo o talento culinário.
Um desses amigos e parceiros de longa data é Cacáudio, que contou com a participação de Salim em seu álbum “Mantiqueira”. Ele lembra que conheceu o músico em 1981, em um festival vencido pelo então futuro amigo, e no qual ele mesmo ficou em terceiro lugar. “Tenho alguns amigos e irmãos nessa vida, e o Salim era um deles”, afirma Cacáudio, que antes da pandemia estava se apresentando em várias cidades da região com o Trio Anima, formado por ele, Salim e Dina Aléxia. “Desde os anos 90 passamos a tocar juntos com frequência. Ele era um cara que transmitia a alma pela música, e que merece nossa homenagem e nosso carinho.”
“(Salim) era um amigo e parceiro que vai fazer muita falta no plano físico, mas que com certeza foi recebido com muita luz, alegria e amor por Deus no plano espiritual”, diz Dudu Lima, outro parceiro de palcos e estúdio. “Tocamos juntos por muitos anos, principalmente nos último 15, depois que o Chico Curzio (morto em maio de 2020) nos convidou para um projeto. Depois, criamos um show chamado ‘Azala total’, que tinha esse nome por causa do apelido com que o tratava carinhosamente. Tempos depois, um amigo em comum disse que ‘Azala’ significava ‘força’”.
Foi a partir do apelido dado ao amigo que Dudu compôs “Azaliando”, música em homenagem ao parceiro que entrou no CD/DVD “Ouro de Minas”. “Eu me inspirei muito nas influências que tive dele, desde quando assisti ao Salim pela primeira vez no palco. Ele era de uma geração musical acima da minha, já era um músico de destaque, e depois nos tornamos grandes amigos e parceiros musicais”, relembra Dudu, que convidou Salim para participar da faixa “Trenzinho caipira” no álbum “Cordas mineiras”.
Bom nos palcos e na cozinha
Outra lembrança do artista é da época em que Salim Lamha foi o proprietário do bar Sabor das Arábias, onde diz ter passado “noites musicais memoráveis”, além da parte gastronômica. “Ele era um excelente cozinheiro”, afirma Dudu Lima. Ao mesmo tempo, ele lamenta que o amigo não tenha registrado em álbuns as suas composições. “O Salim era um super músico, um cara muito musical e que tinha composições lindas, muitas delas nós tocamos em vários festivais, como o Festival de Jazz de Ibitipoca. A gente conversava muito sobre ele gravar um álbum, infelizmente não vamos ter esse registro.” Por causa da pandemia, os contatos presenciais foram suspensos, e Dudu conta que eles conversaram por telefone pela última vez há cerca de um mês. “Desde que voltou para Bicas ele transmitia a alegria de retornar à terra natal, pois podia ficar perto da família.”
O cantor Carlos Fernando Cunha também teve a oportunidade de tocar com Salim Lamha, de quem guarda inúmeras boas lembranças. “Quando lembro dele, vem logo o seu sorriso, que era um dos maiores do mundo. Ele era um cara muito feliz e que passava essa felicidade para todos, que ajudava a todo mundo – e não apenas na música. E tinha uma cultura musical ampla, sempre fazia questão de apresentar as novidades para as pessoas.”
Apesar de Salim ser mais conhecido pelo seu trabalho na música instrumental, Carlos Fernando destaca que o músico também era artista de outros gêneros, como o samba e o rock. “Ele organizava uma roda de samba num bar em frente à Praça Armando Toschi (Maestrinho), no Jardim Glória, da qual participei muitas vezes, inclusive tocando com o Salim, que também participava dos eventos que realizávamos no mesmo local (Samba do Ministro e Ponto do Samba), fosse como público ou dando uma canja. Ele colocava a guitarra e o violão a serviço da música, independentemente do gênero, além de ser um grande compositor instrumental.”
Quanto a esse trânsito pelos gêneros musicais mais diversos, Carlos Fernando Cunha ressalta que Salim Lamha chegou a tocar em uma banda de rock progressivo na juventude e era muito fã de Led Zeppelin. “O fato de ele ser fã de rock acabava criando situações engraçadas nas rodas de samba. Quando tem aquele intervalo entre uma música e outra, em que o cantor está decidindo qual canção virá em seguida, ele começava a tocar alguma coisa, e às vezes era a introdução de ‘Stairway to heaven’, do Led Zeppelin, e o público estranhava. Outras vezes, ele começava o ‘Tema da vitória’ (trilha musical que tocava quando um brasileiro vencia na Fórmula 1), era muito engraçado.”
Assim como Dudu Lima, o cantor carioca radicado em Juiz de Fora tem lembranças da época das noites musicais no Sabor das Arábias, além dos dotes culinários do amigo falecido. “E o cara também foi atleta quando jovem, era jogador de vôlei, mostrava fotos da sua carreira esportiva sempre com muitas histórias e ‘causos’. Perdemos uma figura enorme, certamente é uma grande perda para a cena musical da cidade. Mas ficam as boas lembranças desse cara reluzente, culto, inteligente e grande instrumentista.”
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